José Rabelo 
Foto capa: Ricardo Medeiros
     Para o secretário de Comunicação do   Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública  do Espírito Santo (Sindiupes),   Swami Cordeiro Bergamo, o atual modelo de educação, proposto pela “elite   pensante” do ES 2025 e adotado pelo governo Paulo Hartung, não condiz com a   visão dos profissionais de educação do Estado. “Esse modelo não respeita   professores e alunos e compromete a qualidade do ensino. Este governo trata a   educação como mercadoria e professores e alunos como dados estatísticos”. O   sindicalista alerta que se os programas dos candidatos ao governo do Estado   estão sendo forjados em cima do ES 2025, estão na contramão da pauta de   reivindicações da categoria.
    Ele afirma que os sete anos e meio   da gestão Hartung representam um retrocesso para a educação. O sindicalista   diz que o governador tem conduzido a área de educação com mão de ferro. “A   gestão não é nada democrática. Não existe diálogo. O poder é centralizado na   Secretaria de Educação (Sedu). O secretário Haroldo Corrêa Rocha burocratizou   o sistema e retirou toda a autonomia das unidades escolares para garantir o   total controle em suas mãos”.
    Ao ser informado pela   reportagem que os programas de Renato Casagrande (PSB) e Luiz Paulo   Vellozo Lucas (PSDB) não abordam a questão da autonomia das escolas, e nem   tampouco sugerem eleições diretas para diretores de escola, o sindicalista   ficou bastante decepcionado e criticou: “Se os candidatos não estão preocupados   em devolver a autonomia às escolas, eles estão completamente desafinados em   relação ao principal anseio da categoria. O resgate de um ambiente   democrático é o caminho mais curto para se conseguir melhorar a qualidade do   ensino”.
    Swami explica que o atual governo   homogeneizou a educação no Estado. Para o educador, esse tratamento   igualitário foi “vendido” à opinião pública como sinônimo de qualidade na   educação. “Quando o governo impõe currículo escolar e calendário unificados   está retrocedendo. Isso vai contra o modelo democrático de gestão da   educação, contra a Lei de Diretrizes de Base (LDB), que defende o respeito às   especificidades de cada unidade escolar, considerando as realidades sociais,   econômicas e culturais do seu entorno”.
Diretores capatazes
    Swami também lembrou que qualquer   programa sério para a educação capixaba tem de trazer para a discussão a   questão da eleição direta de diretores de escola. O sindicalista explica que   o governador Paulo Hartung é contra a eleição direta porque quer continuar   usando a indicação como moeda de troca política. “O governador prefere lotear   esses cargos com os deputados estaduais e vereadores para pagar favores   políticos. Não dá para generalizar, mais a maioria dos diretores faz o papel   de capataz deste feitor chamado Paulo Hartung”, protesta.
    O diretores indicados, prossegue   Swami, atendem aos interesses da Secretária de Educação em detrimento da   comunidade. Para o sindicalista, se os diretores fossem eleitos diretamente   por pais e alunos, teriam um compromisso maior com a comunidade. Isso também   ajudaria a devolver a autonomia à escola. “Isso não interessa ao governador.   Queremos saber o que os candidatos têm a propor sobre isso”, questiona.
Jornada estendida
    Além das eleições diretas para   diretores de escola, outra questão que aflige os professores é a jornada   estendida de trabalho. “Esta é outra pergunta que gostaria de fazer aos   candidatos. Alguém tocou nesse assunto no programa de governo? Se eles também   não tocaram nessa questão, é porque estão completamente desinformados ou   desinteressados em resolver um dos problemas que hoje em dia mais tira o sono   dos professores”, ressalta Swami.
    Ele explica que o governo, seguindo   as prerrogativas previstas no ES 2025, foi, aos poucos, promovendo uma mudança   na carga horária dos professores. Segundo o sindicalista, as mudanças   começaram ainda em 2007, quando Haroldo Corrêa assumiu a pasta. A   reformulação proposta alterava a carga horária de cinco aulas de 50 minutos   para cinco de 60 minutos.
    A mudança começou a ser adotada por   algumas escolas em 2008, foi ampliada em 2009 e estendida a toda a rede   estadual de ensino neste ano. Swami explica que, também nesse caso, o que é   “vendido” como avanço é na verdade retrocesso. “A carga horária estendida   aumentou o desgaste dos professores e o rendimento dos alunos. Crianças e   adolescentes não se mantêm concentradas durante duas horas seguidas de aula   da mesma disciplina. Esse é um modelo que não é pedagogicamente indicado”,   critica.
    A carga estendida, de acordo com Swami,   também prejudicou os professores que trabalham em dois períodos,   principalmente os que lecionam em escolas distintas. Por exemplo, o professor   que entra às 7 horas vai finalizar a jornada às 12h20. Normalmente, ele   reinicia o período da tarde às 13 horas, em alguns casos às 12h30. “Com a   jornada estendida o professor não tem tempo nem de se alimentar. Ele acaba   chegando atrasado na escola. Alguns estão abrindo mão de horas (e ganhando   menos) para poder se adaptar à escala. Isso tudo se reflete na qualidade do   ensino. Quando fomos questionar o secretário sobre as mudanças, ele   simplesmente nos respondeu que o horário dos professore não é problema dele”.
Qualidade do ensino
Qualidade de ensino é outro ponto bastante questionado pelo Sindiupes, que também não foi abordado com a profundidade que exige pelos dois candidatos ao governo do Estado mais bem colocados nas pesquisas eleitorais.
Qualidade do ensino
Qualidade de ensino é outro ponto bastante questionado pelo Sindiupes, que também não foi abordado com a profundidade que exige pelos dois candidatos ao governo do Estado mais bem colocados nas pesquisas eleitorais.
    Para o sindicalista, o Índice de   Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) não reflete necessariamente a   qualidade do ensino. Swami diz que esse não é o melhor mecanismo de avaliação   porque faz foco apenas no aluno e não nos processos educativos. “Esse   mecanismo é o único que existe, mas não avalia, por exemplo, se a gestão é   democrática ou não. Não adianta o governo ficar festejando os dados do Ideb   como vitória. É preciso lembrar que a educação no Estado vai de mal a pior.   São essas propostas que nós queríamos ouvir dos candidatos. O que eles vão   fazer para melhorar a qualidade da educação?”, pergunta.
    Embora o secretário Haroldo Corrêa tenha   apresentado os dados do Ideb de maneira a evidenciar o lado positivo do   estudo, ele deixou de fora da sua publicidade os dados que revelam o fracasso   do governo na área de educação.
Nas escolas públicas estaduais, que oferecem ensino fundamental, o Ideb despenca. O índice nos quatro municípios mais populosos do Estado, na avaliação da oitava série do nono ano é de 3,1.
Nas escolas públicas estaduais, que oferecem ensino fundamental, o Ideb despenca. O índice nos quatro municípios mais populosos do Estado, na avaliação da oitava série do nono ano é de 3,1.
    As escolas estaduais de Vitória, por   exemplo, atingiram a modesta média de 2,5. Índice inferior aos de capitais como   João Pessoa (3,2), Teresina (3,0) e Aracajú (2,6). A situação em Serra (3,4),   Vila Velha (3,4) e Cariacica (3,1) é um pouco melhor à da Capital, mas ainda   está abaixo da média estadual, que avaliou a oitava série do nono ano com   média 3,8. Para citar apenas dois exemplos, a Escola Estadual “Professor João   Antunes das Dores” (Serra) obteve Ideb 2,2, já a “José Rodrigues Coutinho”   (Cariacica) recebeu 2,6. Índices que ficam bem distantes da média estadual   para todas as séries comemorado por Haroldo Corrêa de 5,0.
Esquema de subsídios
Swami Bergamo, que entrou para a rede de ensino em 1999, diz que outra questão que atormenta os professores e não poderia ficar de fora dos programas dos candidatos ao governo do Estado é o sistema de remuneração por subsídio adotado pelo governo Paulo Hartung. “Isso precisa mudar urgentemente. O governador criou um sistema de subsídio para conter o crescimento da folha de pagamento da educação. Com esse sistema ele tem um controle da folha”.
Esquema de subsídios
Swami Bergamo, que entrou para a rede de ensino em 1999, diz que outra questão que atormenta os professores e não poderia ficar de fora dos programas dos candidatos ao governo do Estado é o sistema de remuneração por subsídio adotado pelo governo Paulo Hartung. “Isso precisa mudar urgentemente. O governador criou um sistema de subsídio para conter o crescimento da folha de pagamento da educação. Com esse sistema ele tem um controle da folha”.
     De acordo com o sindicalista, o governo   vem tentando convencer os servidores efetivos a adotarem a remuneração por   subsídio. Ele alega que Hartung oferece reajustes mais vantajosos aos   servidores que aderem ao sistema. “Por exemplo, enquanto o sistema de   subsídio recebeu cerca de 12% de reajuste no ano passado, os efetivos   receberam 4%. Para você ter uma ideia, um professor em designação temporária   entra ganhando mais que um servidor efetivo que não aderiu ao sistema de   subsídio. Para uma carga de 25 horas semanais, um DT ganha cerca de R$ 1.500,   já o efetivo que recebe por vencimentos ganha R$ 900. Muitos professores   estão, como quer o governo, fazendo a opção para receber por subsídio. Na   ilusão de que a mudança trará vantagens. Entretanto, uma vez que ele altera o   seu contrato de trabalho para o novo sistema, o servidor abre mão uma série   de direitos conquistados pela categoria ao longo da história. Depois de fazer   a opção, ele não pode voltar atrás. Além do mais, os servidores que estão   migrando para o pagamento por subsídio não têm garantias de como será a   situação deles em 2011” ,   alerta.
    Swami afirma que a remuneração por   subsídio - que inclusive está sendo contestada na Justiça pelo Sindiupes -,   assim como tantas outras medidas autoritãrias impostas por este governo, são   as verdadeiras demandas dos professores da rede pública estadual hoje, que   parecem ter sido ignoradas nos programas de Casagrande e Luiz Paulo. 
    Pelas propostas apresentadas nos   programas de governo, parece que os candidatos vão seguir a lição de casa   deixada por Hartung. Gestão não democrática, poder centralizado, falta de   autonomia nas escolas, nomeação política de diretores, pagamento por subsídio   para enfraquecer a categoria e retirar direitos consolidados, jornada   estendida, e tantas outras medidas autoritárias que confirmam que Paulo   Hartung, de fato, como disse Swami, trata a educação meramente como   mercadoria.FONTE: Site   Século Diário
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